Dia 10 - Milícias

Dia 10

Eu me apeguei ao Tinão, mas tivemos que continuar a viagem. O carro está bem pesado de suprimentos, eu não sei se realmente precisamos de tudo isso, mas meu pai está ficando cada vez mais neurótico com comida conforme fomos percebendo as latas desaparecerem dos mercados. Era de se esperar, já que ninguém mais está fabricando comida. 

Deixamos o bar muito bem fechado, Tinão ainda vai ficar mais um dia ou dois para recuperar suas forças. 

Não gosto do barulho que o carro faz, está muito pesado, eu até reclamei com meu pai, porem ele disse que o carro aguenta, então eu acredito né.

Pois bem, estávamos nós viajando tranquilamente quando chegamos a um posto montado bem na pista, estranhamos muito, eram coisas que pareciam ser do exército, minha mãe ficou muito contente, ela achou que poderia ser algum tipo de resistência oficial, uma esperança em fim de dias melhores.

Eu fiquei muito temerosa, certamente eles iriam me analisar, descobririam minha infecção e provavelmente meteriam uma bala na minha cabeça na frente da minha família enquanto eles gritavam “nãaaaaooo”... eu vi muito isso nos filmes, sei como é.

O moço, todo fardado, um pouco magro pra um soldado, fez sinal para diminuirmos. Começou a conversar com meu pai, perguntando onde estávamos indo, se tínhamos armas, se havia alguém infectado... Até o momento em que ele viu a mão do meu irmão enfaixada! Se afastou do carro e apontou o rifle para meu pai, mandou que todos saíssemos do carro e gritou por um tal de Carlos.

Ficamos deitados no chão quente então eles discutiam num canto, então nos levaram de forma nada gentil a uma jaula, isso mesmo, uma enorme jaula, fiquei pensando na razão deles terem uma jaula, mas lá estávamos nós, presos como animais. Não nos contaram nada, apenas vimos que apareceram mais soldados que descarregaram nosso carro. Meu pai passava as mãos na cabeça, como ele faz quando está nervoso.

Felizmente nos devolveram nossas mochilas com alguns alimentos, só tiraram facas e canivetes que tínhamos... Pelo menos posso escrever aqui, pelo jeito vou ficar por algum tempo aqui, talvez eu me transforme num zumbi e mate todos nesse acampamento... Isso seria bom, muito bom, arrancar as suas gargantas com os dentes e sentir o sangue jorrar em minha boca, sangue salgadinho, bem quentinho e a carne dura dos humanos, carne podre e deliciosa...

O que eu acabei de escrever? Eu fiquei algumas horas pasma desde nesse último parágrafo, sinto um desejo enorme de morder as pessoas, não minha família, algumas vezes perco o controle. Estou com medo de dormir, presos nessa jaula eles não terão chance se eu me transformar.

Eu vou ficar acordada, seja o que for me acontecer, não vou deixar que seja hoje, hoje não.


Nenhum comentário:

Postar um comentário