Dia 11

Estou aqui num floresta, estou me sentindo muito estranha.

Nós estávamos presos naquela jaula, meus familiares dormiram, eu escutava os soldados da milícia se divertindo com nossas coisas, eu fiquei com tanta raiva, tive pensamentos tão horríveis, desejei matar a todos, cada um deles, um de cada vez...

Parece que estou a cada dia mais perversa, eu não sei se é a infecção ou se é essa situação toda. Eu vi um zumbi na certa, era um zumbi comum, não podia escalar, apenas ficava tentando em vão avançar.

Olhei bem pra ele, eu parecia sentir sua fome, sua dor, seu desespero. Estamos acostumados a pensar neles como seres sem mente e alma, mas eu juro que posso sentir uma força querendo companhia, quase uma carência, não sei.

De repente, eu comecei a sentir não um, mas vários, vindo em nossa direção. Será que eu realmente posso senti-los? Ou foi coincidência quando vi que realmente vários se aproximavam?
Eu presa ali na jaula, senti um desejo de pedir socorro, aquilo percorria meu ser como uma vontade de tossir irresistível! Então eu gritei, gritei como nunca havia feito, com uma voz que não era minha, perdi a visão por alguns segundo, apenas podia me ouvir dando aquele grito que me fazia arrepiar!

Quando voltei, dezenas de zumbis escalavam as cercas de forma violenta! Minha família me olhando como se vissem o próprio capeta! Ouvimos muitos tiros, a milícia se defendia como podia, porem eram muitos. Senti o gosto da carne deles em meus dentes, como se eu mesma estivesse os mordendo. Foram todos dominados, eu sabia disso sim, pois senti paz.

Os zumbis nos acharam na jaula, nos cercaram e tentavam nos alcançar pelas grades. Ouvi de longe sons de motos roncando, eu sabia quem era, era Tinão! Eu disse a minha família que Tinão iria nos salvar, mas eles não acreditaram ou estavam muito assustados para responder.

Então vimos os faróis, os zumbis correram caçar as motos, Tinão chegou a pé e abriu nossa jaula.

– Tinão! Eu sabia que estava vindo... – Eu disse chorando

– Menina, eu sei o que você fez, eu posso sentir, não poderia deixar você em apuros.

Eu fiquei assustada por ele ter dito aquilo, mas não tivemos muito tempo, mais zumbis apareceram, então ele subiu em sua moto e chamou a atenção deles, assim corremos para a floresta enquanto os motoqueiros os distraiam.

Perdemos todas as nossas coisas, mas estamos vivos. A cada dia o mistério de minha infecção se faz mais... misterioso. Mas só posso dizer que adorei, adorei ver todos morrerem e não vou mais lutar contra isso... é como eu sou agora.


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