Dia 9

Estou ansiosa pra escrever tudo que aconteceu ontem!

Bem, chegamos a um bar como eu tinha dito. Amarrei o Focinho dentro do carro, para ele não criar problemas, minha mãe, Pedro e eu ficamos do lado de fora vigiando, escondidas atrás do contêiner de lixo. 

O Focinho ficava chorando dentro do carro, mas com as janelas fechadas não dava pra escutar tanto assim.
Escutei algo de vidro cair dentro do bar, eu perguntei a minha mãe, mas ela disse que não ouviu nada, disse que se fosse alguma coisa eles teriam gritado. Olhei para meu braço e vi uma verruga, tive que ficar puxando a manga para esconder. Novamente escutei algo, dessa vez uma porta batendo. Eu insisti a minha mãe, mas ela negava ter ouvido qualquer coisa e Pedro confirmou.

De repente meu pai apareceu cheio de sangue nas mãos e no peito! Minha mãe se tremeu toda e o Pedro já fez cara de choro, eu ri da cara dele, mesmo vendo meu pai ensanguentado. Mas logo ele acalmou minha mãe dizendo que o sangue não era dele.

Peguei o Focinho e fomos todos para dentro, trancamos tudo como pudemos, tinha um piano antigo no bar, era muito pesado, então o colocamos contra a porta. As janelas eram pequenas e ainda tinham vidros, então estávamos mais ou menos seguros por enquanto.

Eu não tinha visto Michel, será que o sangue era dele e meu pai não nos contou? Eles foram para um cômodo nos fundo e fiquei com o Pedro. Que mistério eles estavam guardando?

Saíram do cômodo carregando um homem estranho, estava ferido na barriga, o colocaram sobre a mesa de sinuca. Ele gemia muito e pedia muito para não o deixarmos ali sozinho. Ele era grande e forte, barbas de pelos grossos, negros e pintados um pouco algo azul, meio careca e jaqueta de couro, como os motoqueiros que vi da TV.

Ele nos contou que estava com um grupo de motoqueiros, entraram no bar para passar a noite e um zumbi escalador apareceu do nada, não sabiam se ele entrou enquanto dormiam ou se ele já estava ali dentro escondido. Quando ele abriu os olhos no susto, o zumbi estava no teto, saltou sobre um de seus amigos o mordendo. Todos começaram a lutar com o zumbi, vários ficaram feridos e ele acabou caindo sobre um taco de sinuca partido. Seus amigos correram pelos fundos, o zumbi os perseguiu, ele então foi até a dispensa e se escondeu ali e desmaiou. Quando acordou novamente ouvindo os passos de meu pai ele assustou e derrubou um jarro de vidro, meu pai foi ver o que era, quando o viu pensou ser um zumbi e bateu a porta até o ouvir pedir por socorro.

Isso quer dizer que eu tenho um bom ouvido, nem minha irmã, nem meu irmão puderam ouvir, mas eu sim.
Fizemos comida, tentamos limpar as feridas dele, mas o sangue não parava de sair. Ele estava muito mal. Embora fosse um homem bruto, parecia ser alguém legal. Quando fomos dormir, Michel ficou com a primeira guarda. Eu não estava com sono e queria muito ajudar o homem. Esperei acordada até que Michel foi ao banheiro. Eu puxei a verruga de meu braço e segurei a mesma sobre a ferida do senhor. Os tentáculos começaram a se infiltrar na pele, percorriam rapidamente por toda a ferida como se a costurasse. Segurei o quando pude até ouvir a porta do banheiro abrir, então puxei com força até arrebentar os tentáculos.

Fui dormir ou fingir que dormia, fiquei a noite toda acordada pensando sobre o zumbi escalador, subindo pelas paredes, escondendo-se nos mais inesperados locais. Enfim a manhã chegou, pra minha surpresa o homem despertou, parecia muito melhor, até sua cor tinha melhorado. Eu não sei se o que eu fiz o curou ou se está o transformando por dentro, porem acredito que lhe dei mais algum tempo.

Meus pais decidiram ficar aqui mais um tempo, havia tanta comida ali que não caberia no carro e o senhor ainda precisava de ajuda. Passamos quase o dia todo conversando sobre as aventuras dos motoqueiros, como eles se livravam de hordas de zumbis nas estradas fazendo formações com as motos e espadas improvisadas. Finalmente lembrei de perguntar o nome dele, até então o chamávamos de senhor.

Ele disse que seu nome era Tinão, perguntei o nome real, mas ele disse que aquele nome não existia mais, aquela pessoa havia morrido e que agora era só Tinão. Enquanto os outros tentavam encaixar mais comida no carro, achar coisas úteis etc, fiquei jogando cartas com Tinão, de olho na ferida que cicatrizava muito bem.

Gostei muito dele, até sonhei em pegarmos motos e criamos uma gangue da família. Mas o Tinão já havia dito que quanto estivesse melhor iria atrás de seus amigos, mesmo que eles tivessem o deixado, disse que o medo o teria ter feito o mesmo e que como nós, respeitávamos a regra: nunca voltar pra salvar ninguém.

Então é isso, estava animada para registrar aqui o feito das minhas verrugas, talvez não sejam tão ruins assim, talvez eu não vire um zumbi.


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