Quando acordei já era dia
novamente, meu irmão estava de pé, parece estar se recuperando bem. Metade das
pessoas que amputam seus membros mordidos sobrevive, espero que ter cortado o
dedinho dele seja suficiente.
Estávamos conversando pra decidir como fugir dali, porque
não tínhamos quase nada de comida, apenas o que estava na minha mochila e nada
de água. Não poderíamos ficar ali até perdermos as forças e só então tentar
escapar. Porem ouvimos uns latidos fininhos, talvez fosse o cachorrinho! Meu
coração gelou na hora, imaginei ele sendo estraçalhado pelos zumbis.
Percebemos pelas frestas das tábuas que os mordedores
começaram a deixar o local e ir em direção aos latidos, corremos para a porta,
o carro ainda estava lá e meu pai olhava pela janela da casa. Então fomos abaixados
até o carro, meus pais saíram da cassa e vieram até nós.
– Pai! O cachorrinho!
– Nem pensar, não vou arriscar a gente por um cachorro!
– Mas ele nos salvou, eles estão chegando perto! Por favor,
pai, pai, pai!
O bobinho do cachorrinho continuava a latir, mas não deixava
os mordedores se aproximarem. Meu pai hesitou alguns momentos e ligou o carro,
para minha surpresa ele avançou em direção ao bando, atropelamos alguns,
passamos a frente deles, minha mãe abriu a porta e chamou o cachorrinho. Ele
não vinha, ficou parado olhando enquanto os zumbis chegavam. Eu não aguentei,
desci do carro e corri atrás do danado que ficou com medo e fugiu de mim! Me
deu um desespero tão grande naquele momento, corri tão rápido, o mais rápido que eu pude,
eu sabia que se eu não o pegasse eu teria que deixá-lo.
Quando cheguei bem perto ele se jogou de costas na grama e
me deixou pegá-lo. Olhei para trás, já estava longe do carro e os zumbis
correndo em minha direção. Corri mais que eu pude, mas tropecei num elevado de
grama e cai. O cachorrinho saiu correndo, no desespero eu só pensei em correr
para o carro e foi o que eu fiz.
Olhei da janela do carro e não vi mais ele, quando de repente
ele entrou pela porta da minha mãe, saímos em disparada. Antes de chegar à
estrada ainda atropelamos mais alguns zumbis, o carro ficou bem sujo, o vidro
quebrado e meu coração acelerado com se fosse explodir.
Passado o susto, contamos o que havia acontecido com Michel
e fizemos planos de achar mais gasolina e água. O GPS do carro parou de
funcionar, voltamos a usar o velho mapa. Depois de tanto sangue, tripas e
outras nojeiras, por incrível que pareça, só consigo pensar numa lasanha. Como
é que eu encontraria uma lasanha no fim do mundo?
Preciso pensar num nome para o cachorrinho, ainda não sei.
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