Dia 5



Ontem eu não aguentei, mesmo naquela situação, presa no celeiro com meu irmão mordido, caí no sono. 

Quando acordei já era dia novamente, meu irmão estava de pé, parece estar se recuperando bem. Metade das pessoas que amputam seus membros mordidos sobrevive, espero que ter cortado o dedinho dele seja suficiente.

Estávamos conversando pra decidir como fugir dali, porque não tínhamos quase nada de comida, apenas o que estava na minha mochila e nada de água. Não poderíamos ficar ali até perdermos as forças e só então tentar escapar. Porem ouvimos uns latidos fininhos, talvez fosse o cachorrinho! Meu coração gelou na hora, imaginei ele sendo estraçalhado pelos zumbis.

Percebemos pelas frestas das tábuas que os mordedores começaram a deixar o local e ir em direção aos latidos, corremos para a porta, o carro ainda estava lá e meu pai olhava pela janela da casa. Então fomos abaixados até o carro, meus pais saíram da cassa e vieram até nós.

– Pai! O cachorrinho!
– Nem pensar, não vou arriscar a gente por um cachorro!
– Mas ele nos salvou, eles estão chegando perto! Por favor, pai, pai, pai!

O bobinho do cachorrinho continuava a latir, mas não deixava os mordedores se aproximarem. Meu pai hesitou alguns momentos e ligou o carro, para minha surpresa ele avançou em direção ao bando, atropelamos alguns, passamos a frente deles, minha mãe abriu a porta e chamou o cachorrinho. Ele não vinha, ficou parado olhando enquanto os zumbis chegavam. Eu não aguentei, desci do carro e corri atrás do danado que ficou com medo e fugiu de mim! Me deu um desespero tão grande naquele momento, corri tão rápido, o mais rápido que eu pude, eu sabia que se eu não o pegasse eu teria que deixá-lo.

Quando cheguei bem perto ele se jogou de costas na grama e me deixou pegá-lo. Olhei para trás, já estava longe do carro e os zumbis correndo em minha direção. Corri mais que eu pude, mas tropecei num elevado de grama e cai. O cachorrinho saiu correndo, no desespero eu só pensei em correr para o carro e foi o que eu fiz.

Olhei da janela do carro e não vi mais ele, quando de repente ele entrou pela porta da minha mãe, saímos em disparada. Antes de chegar à estrada ainda atropelamos mais alguns zumbis, o carro ficou bem sujo, o vidro quebrado e meu coração acelerado com se fosse explodir.

Passado o susto, contamos o que havia acontecido com Michel e fizemos planos de achar mais gasolina e água. O GPS do carro parou de funcionar, voltamos a usar o velho mapa. Depois de tanto sangue, tripas e outras nojeiras, por incrível que pareça, só consigo pensar numa lasanha. Como é que eu encontraria uma lasanha no fim do mundo?


Preciso pensar num nome para o cachorrinho, ainda não sei.

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