Dia 7

Bom dia diário.

Eles não entendem o que eu tenho com você, nossa amizade. Eles se irritam porque te levo pra todo lugar, mas eles não sabem o que você se tornou pra mim. Com você eu posso dizer tudo, tudo o que eu sinto e principalmente o que eu não sinto.

Eu acho que estou contaminada. Aquele carrapato que peguei do cavalo devia estar com sangue zumbi. Eu estava apalpando e pequenas bolinhas em volta da picada pareciam agarrar nos meus dedos. É bem como agem as verrugas zumbis. Depois olhei perto do cilindro de aço, eu pude ver que estão ali. Não quero falar para meus pais agora. Não sei como vão reagir, não vão poder arrancar o meu pescoço para que eu não me transforme.

É triste saber que eu vou perder minha memória, minha razão e sumir. Quantas pessoas eu vou matar? Será que matarei minha própria família? Eles vão ter coragem que enfiar uma estava no meio da minha testa? Não sei, só sei que se eu sentir que estou indo embora eu vou correr o mais longe que eu puder. Talvez eu devesse ter fugido enquanto dormiam ontem.

De qualquer forma, continuarei escrevendo, continuarei até que eu sinta que você não me escute mais, até que eu esteja sozinha.

Depois que saímos do túnel onde dormimos, viajamos até uma cidade, eu não sei o nome, mas parecia bem deserta. Fomos até o posto e tentamos usar o sugador de gasolina que o Michel fez, mas não deu muito certo. No lugar onde colocavam os carros para trocar pneu, tinha uma bomba dessas de bicicleta, então meu pai levou para Michel e substituíram pelo fole que não tinha funcionado. Assim conseguimos encher todos os três galões.

Então procuramos um carro melhor, vários deles estavam repletos de musgo zumbi. Musgo zumbi é quando você mata um zumbi e ele vai apodrecendo, ele vai derretendo e em toda a extensão da gosma nasce um musgo. É bem perigoso, se alguém colocar a mão ali ou até mesmo respirar o ar perto do musgo pode ficar infectado!

Quase todos os carros estavam com um pedaço de zumbi musgo ou um inteiro. Quando meus pais se afastaram um pouco, eu vi um carro aberto, examinei todinho. Havia apenas um pedaço de musgo, a julgar pelos ossos, parecia ser uma mão de algum zumbi. Como eu já estava contaminada, decidi tacar a mão ali e limpar o banco traseiro. Limpei o mais rápido que eu pude! E então chamei meus pais.

Eles examinaram o carro, acharam estranho que estava com o banco traseiro molhado, mas como estava com cheiro de gasolina não pensaram que poderia ser algo de zumbi. Passamos todas as coisas para o carro novo, agora cheio de gasolina. Mas poderíamos ver a lojinha por comida. Já estávamos ganhando, mas comida sempre é bom!

Meu pai e Michel foram investigar. Pedro, muito chato ficou olhando para o pedaço de musgo que eu havia tirado do carro e jogado no matinho ali perto, parecia que ele tinha farejado como um cão o meu crime! Ele olhava para o carro e para o musgo como se medindo se as duas coisas faziam parte uma da outra. Fique com muita raiva e fiquei olhando direto pra ele, minha vontade era de arrancar a cabeça dele e mastigar seus olhos!

Nossa, mas o que eu estou escrevendo? É verdade, eu fiquei com raiva aquela hora, mas eu nunca faria isso com meu irmão! Será que estou ficando louca como um zumbi? Será que é essa ira que os zumbis mordedores sentem?

Enfim, meu pai e Michel acharam algumas coisas, nada demais, salgadinhos e refrigerantes. Mas já é alguma coisa. Depois viajamos por um bom tempo, o carro novo é melhor, maior, eu gostei, mesmo sabendo que estou sentada em bactérias zumbis.


Paramos, não tem nada aqui, apenas pastos gigantes, vamos dormir no carro. Fico um pouco preocupada, não sei se eu posso transmitir por ar minha contaminação com os vidros fechados. Contudo estou puxando algumas verrugas, a dor não é tão forte. Elas são estranhas, tem perninhas finas como cabelos, elas ainda se mexem por um bom tempo depois que você arranca. Se continuar nascendo mais, logo não será possível esconder dos meus pais.

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